A CARTA DE SETEMBRO DE 1885
A vida de Jack estaria prestes a mudar. Não só tinha acabado de chegar ao seu novo emprego na muito respeitada Western Union, como iria deparar-se com algo digno de contar aos seus futuros netos.
Foi de fatinho e gravata que deu os primeiros passos para dentro do edifício. Sendo este o seu primeiro dia de trabalho no escritório, não queria de todo dar uma primeira má impressão. Se nunca foi desajeitado, não havia motivos para o começar a ser agora.
Estávamos no início da segunda semana do mês. A primeira tinha sido calma, passada apenas com o chefe a interiorizar os últimos detalhes necessários relativamente ao seu cargo.
– É tudo boa malta por aqui, senão já os tinha mandado embora – brincava o superior.
De facto os colegas revelaram-se bastante simpáticos quando o convidaram a ir ao habitual bar das 2as no final do trabalho.
– É um ritual nosso que nos ajuda a suavizar este chato dia da semana.
Depressa se fez noite, como é habitual em Novembro e as mesas já estavam cheias de copos.
– Sabes, jovem, o nosso amigo aqui vai ter um trabalho extra este fim-de-semana.
– Ai é?
– Sim, e quase que vai ser em vão. A única coisa que vou ganhar com aquilo vai ser uma aposta – explicava Travis.
– Não sejas assim. Não me digas que não tens curiosidade.
– Agora eu é que fiquei curioso! – interrompia Jack.
– Tenho de entregar uma carta que está na nossa posse há mais de 70 anos! E o melhor disto tudo é que o seu destinatário vai estar precisamente às 10:01 da noite deste sábado no meio de uma estrada perto de High Valley. Diz lá se isto não é de malucos. É óbvio que ninguém vai estar lá.
– Agora fiquei ainda mais curioso! – exclamava Jack.
– Estamos todos. Vai ser a semana mais lenta de sempre – acrescentava Paul.
E assim foi. Chegado o fim-de-semana, todos fizeram questão de se despedir de Travis.
– Boa sorte! Se soubesse que este emprego nos viesse trazer este tipo de aventuras, já cá tinha posto os pés antes – dizia Jack.
Mas Travis estava nervoso. Depois de tanto tempo à espera, já nem sabia se queria de facto saber a resposta ou não.
– Faz-te homem! – pensava para si.
Chegou o momento e enquanto dirigia o seu veículo à noite, não parava de repetir “Lyon Estates, Lyon Estates, Lyon Estates”. Este era o local onde a suposta pessoa se encontrava.
– Lyon Esta.. Oh meu Deus.
Saiu do veículo com cautela e mesmo tendo começado entretanto a chover, decidiu fazer os últimos metros a pé.
– Senhor McFly! O seu nome é Marty McFly?
LUÍS FILIPE TEIXEIRA
Ilustração de Liliana Lourenço
A “SEQUELAS” é uma iniciativa promovida pelo GUIÕES – Festival Internacional do Guião Cinematográfico de Língua Portuguesa (www.guioes.com) e destina-se à celebração do 120º aniversário do Cinema. Ao longo dos 12 meses de 2015 serão lançados textos ilustrados, criados por alguns dos mais entusiasmantes criativos de Língua Portuguesa, para homenagear alguns dos mais icónicos elementos da História do Cinema.